4.4.13

Curiosidades da vida em Sandlândia (1)

Outro dia cheguei em casa meio abobalhada. Levei um tombo de bicicleta, no trajeto que sempre faço, quando vou para o Rec Center, lugar onde nos encontramos para fazer atividades, como fitness, ioga e dança. Aí também comemos, há um restaurante e um spa. 

Estava toda relaxada depois da minha aula de flamenco. Resolvi acompanhar a professora e degustar o menu: uma sopa e uma linda salada. Conversamos sobre a vida e as atividades das expatriadas por aqui. Falamos da ansiedade por não sabermos onde estaríamos depois desta experiência aqui em Sandlândia. Por fim, satisfeita, com a barriguinha cheia e precisando de uma “siesta”, me despedi. 


Subi em minha bicicleta holandesa, que todas adoram, pois não existem muitas bicicletas por aqui. Coloquei meus apetrechos na cestinha e me dirigi à rampa que me levaria ao caminho de casa. Como se levasse um empurrão de alguém que gostaria de me jogar no chão, senti, em uma fração de segundos, a sensação de estar sendo protegida, se não por mim mesma, por meus reflexos e cai sobre uma moita de cravos amarelos. As flores foram esmigalhadas por meus quilinhos extras e impregnara, meu nariz que beijou o gramado. Minhas roupas ficaram com aquele cheiro que sempre me lembra um velório. Sai desse corpo que este corpo não te pertence, foi o que disse quando me levantei e vi minha bicicleta com alguns raios quebrados e toda torta no chão. 

O indiano que trabalha na recepção veio ao meu encontro e se propôs a me ajudar, depois de me advertir que não deveria descer a rampa em bicicleta. Desviei o assunto e o agradeci, subi na bicicleta desentortada por ele e segui pedalando, admirando o belo jardim do condomínio, com os pensamentos voltados ao “se”: se tivesse me quebrado, se tivesse caído no concreto em vez do gramado, se tivesse sido mais cautelosa, se realmente usasse a bike como uma senhora e não mais como uma adolescente, se, se, se... 

Esquentando meu travesseiro à noite, só podia agradecer a Deus por ter passado o susto, e não ter me machucado muito, só foram alguns arranhões nas pernas e uma batida no nariz. Senti que meu anjo da guarda às vezes dá um cochilo também, mas se escuta umas palavras minhas, me atende e não me deixa na mão. 


A moita de cravos já estará replantada, pelas mãos dos dedicados jardineiros indianos que trabalham por um mínimo salario, aqui na terra dos sheiks. Minha nova rotina incluirá estar mais atenta aos meus próprios movimentos e respeitar a dinâmica do meu corpito que já está nos “enta” Tenho muita agilidade, mas também as limitações de uma “entona”! 


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