21.5.17

Bélgica: Gent, a cidade onde você se sente Gente

Ghent em inglês, em holandês Gent, pronunciando-se "yent", em francês Gand e em alemão Gent. Sim, há quatro maneiras de se escrever e falar o nome da cidade, pois ela se situa em um país que tem três idiomas oficias. São as línguas herdadas dos países que a ocuparam no passado.

Há 15 anos tive o prazer de conhecer Gent pela primeira vez. É a maior cidade da região flamenca da Bélgica, que se originou em um assentamento na confluência dos rios Schelde e Lys. Meus olhos não se cansaram de contemplar a cidade que é vizinha à cidade de Melle, onde nasceu meu marido. Foi um dos meus primeiros contatos ao vivo com uma cidade medieval, que no século XIII foi a segunda maior cidade da Europa, depois de Paris. Sua arquitetura ainda está intacta, muito bem preservada e restaurada.

É uma das mais belas comunidades da Bélgica, pessoalmente considero a mais acolhedora. Me seduziu seu estilo medieval e suas histórias da Idade do ferro, seus canais, catedrais e muitas outras atrações turísticas, além de uma rica gastronomia. Gent também é uma cidade universitária e portuária.



A catedral de Saint Bavo guarda o quadro religioso mais valioso do mundo, o "Het Lam Gods", o cordeiro de Deus. Obra dos irmãos Hubert e Jan van Eyck. 



O antigo porto Grasley, com uma arquitetura esplêndida, hoje é explorado por hotéis 5 estrelas e restaurantes com estrelas Michelin. Também é um espaço de recreio para estudantes  ̶ que passam horas comendo e distraindo-se com amigos  ̶ ou para turistas que visitam este belo cenário. Grasley já serviu como principal porto dos mercadores da Europa. Aqui você pode percorrer uma boa parte turística da cidade a bordo de um barquinho. No verão circulam milhares de pessoas nesta região, onde são organizados festivais de música e de cinema. É um verdadeiro paraíso cultural e o meu cantinho preferido na cidade.


Gent foi cenário de várias batalhas, revoluções e muitos conflitos que ocorreram desde a época dos vikings até Napoleão. Não conseguirei descrever aqui a imensa e linda história, mas vale a pena conferir o passado de uma região que criou primeira máquina têxtil, tramitou os maiores acordos comerciais entre países europeus, foi capturada por franceses, holandeses e alemães, mas ao final foi a sede da exposição mundial, em 1913.


Meu sogro, um belga culto e patriota, sempre me explica com detalhes a linda história da cidade, aqui me conta sobre os irmãos pintores, autores da obra "Het Lam Gods". Vivi oito anos na Bélgica. A cada visita a esta cidade me deslumbro com tantas riquezas culturais e históricas.

É lindo e animador ver muitos ciclistas pela cidade. Até as mulheres idosas, com suas roupas elegantes e com seus saltos altos, pedalam pela cidade. Em cada esquina você encontra estacionamentos gigantes de bicicletas para alugar por horas ou por dias.



Gent tem a maior área de rotas ciclísticas da Europa, com cerca de 400 quilômetros (250 milhas) de ciclovias e mais de 700 ruas de sentido único, nas quais as bicicletas na direção contrária ao tráfego. Eu adorava explorar essas rotas com minha bike e fazer passeios de família sem ter preocupação com os carros. A cidade também tem um sistema de transporte muito bom, em que prevalecem os trans elétricos, que facilita muito a vida dos estudantes e dos turistas.


Os belgas são conhecidos por seus bons conceitos e pelo respeito à ecologia, além disso, se orgulham de produzir um dos melhores chocolates do mundo, os mais variados tipo de cervejas (mais de 300) e a mais deliciosa batata frita, conhecida como french frites, mas que se originou aqui. Pelas ruas das cidades estão espalhadas as belas e convidativas vitrines de pralinés, um tipo de bombom, e muitas variedades de chocolates exóticos. Os pralinés belgas são um "néctar dos deuses", se desmancham na boca. Entre as lojas mais conhecidas estão a Neuhaus, Godiva e Leonidas. Jean Neuhaus criou o praliné em 1912, mas foi nesta última páscoa que tive o prazer de ganhar de uma querida amiga uma caixa de bombons Joost Arijs, nome que está no top das chocolateries belgas.



A batata frita, ou frietje, é outra delícia imperdível. Passeando pela cidade é fácil você encontrar o Vrijdagmarkt, por lá a van Frituur Jozef oferece um cone de batatas fritas com molhos de maionese ou coquetel sauce delicioso. Imagine uma batata mais levinha, carnuda, com mais gosto de batata do que de fritura, é crocante: uma maravilha! São realmente deliciosas e únicas essas batatas fritas. Há muitos lugares especiais para você degustar sua frietjes, inclusive existe uma competição para eleger as melhores da cidade. Elas são o acompanhamento de muitos pratos típicos. 


O famosíssimo Moules Frites (mariscos com fritas), por exemplo, é encontrado em quase todos os restaurantes na Bélgica. É um dos meus pratos favoritos em Gent, junto com o Stovlees, e o Vol a vent, que também se acompanha de fritjes. Sem esquecer, é claro, dos dos waffels, kass croquetes e garnal croquetes, feitos com camarões minúsculos e deliciosos. São muitas as tentações da riqueza culinária belga que sinto falta no meu dia a dia no deserto da Arábia Saudita.


Uma boa mesa belga nunca deixa de ter uma variedade de queijos fortes e especiais, acompanhados de bons vinhos. Muitos têm o hábito de degustá-los após a refeição, como sobremesa, meu marido é um deles.


Somos sempre recebidos com estes mimos pela família belga. A cada almoço ou jantar, costuma-se oferecer o que eles chamam de aperitivo, que pode ser uma mesa de petiscos deliciosos, acompanhados pela bebida de sua preferência: vinho, cerveja ou até um pastis. Mesmo sendo em minoria, eles também bebem água e sucos de frutas, é claro.



Se você não tem a sorte de ter uma família e amigos belgas para te receberem, não se decepcione. A cidade oferece uma gama de bons restaurantes e pequenos lugares, onde podemos satisfazer nosso paladar sem precisar lavar pratos.

Belga Queen é um excelente restaurante no coração da cidade. Fica em um belíssimo prédio, do século XIII, muito bem localizado. Se estiver fazendo um clima agradável, não deixe de sentar do lado de fora, para curtir o visual do Grasley. Se optar ficar por ficar do lado de dentro, você vai poder desfrutar do salão, que foi totalmente restaurado, com uma decoração contemporânea e elegante. Experimente o Waterzooi  ̶ prato típico da cidade  ̶ que parece uma sopa de frango com legumes. O endereço é Graslei, 10 (tel.: +32 9 2800100).

Outros dois restaurantes muito indicados são o C-Jean e o Jan Van den Bom. Nas ruelas de Patershol também encontramos muitos restaurantes.

Na Veldstraat, rua do comercio central, há uma opção mais alternativa, a Panos, onde você pode encontrar uma vitrine de sanduíches variados, fresquinhos e feitos com produtos orgânicos. Também há uma rica variedade de tortas e croissants recheados. Adorava comprar um sanduíche e sair passeando pela cidade. Meu preferido era o Martino, uma pasta de carne fresca, com pepinos, queijo e saladas em pão de cereais. Me dá água na boca... Panos faz parte de uma rede de estabelecimentos, mas considero uma opção muito mais saudável do que os Macs da vida.


Dulle Griet é um local perfeito para se degustar uma das mais de 250 cervejas que a casa oferece, fica na Vridagmarkt, 50. 

Também gosto de um cantinho convidativo no Grasley, é o Waterhuis aan de Bierkant, com mais de 300 marcas de cervejas, adorei descobrir a cerveja de banana.

Para celebrar minhas várias passagens por esta cidade, e ainda muitas outras que virão, deixo aqui meu brinde, com esta cerveja feita em Melle, cidade vizinha de Gent, na qual vivi por 4 anos. A cerveja do elefante cor-de-rosa que me faz lembrar como somos Gente em Gent! Tim Tim!



Dicas: 
- O clima por lá costuma ser bem frio nos meses de novembro a março. Entre junho e agosto é mais quente, pois é o período do verão, e da alta temporada turística. 

- Em julho você pode apreciar um grandioso festival internacional de música, o Gentse Feesten, que movimenta a cidade por 10 dias e leva os gentenares à loucura. O Gentse Feesten acontece em diversos palcos, distribuindo boa música, tradição e cultura por toda a cidade. Tive a oportunidade de assistir ao gênio do sax, Toots Thielemans, e muitos outros músicos famosos por lá. Este ano a programação contará com Norah Jones, Gabriel Rios e uma galera top, sempre gratuitamente.

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2.5.17

Kitchen Star: o Master Chef do Bahrein

Umas das atividades terapêuticas que curto aqui no Oriente é cozinhar

No dia 21 de março aqui na Arábia Saudita comemora-se o Dias das Mães. Aproveitando o gancho deste dia, a revista Time Out Bahrein e Bahrein Woman realizaram o segundo Master Chef do Bahrein. Trata-se de uma competição entre grupos para apresentar a melhor elaboração culinária com os ingredientes sugeridos em apenas 90 minutos.

Trabalhamos em um grupo de quatro amigas brasileiras para preparar uma entrada, prato principal e sobremesa nos 90 minutos estipulados. Trabalhamos em um ambiente improvisado, no exterior, mas muito agradável, ainda que um pouco estressante pelo fato de estarmos sendo filmadas e assistidas por um público de aproximadamente 200 mulheres que também são expatriadas no Bahrein.

Competíamos com mais 3 grupos e conquistamos o terceiro lugar, embora muitas pessoas e até um dos juizes nos comentaram que merecíamos o segundo lugar. Nós consideramos que foi como ganhar em primeiro, pois as participantes do nosso grupo tinham se conhecido naquele mesmo dia.

Fiquei com a tarefa de elaborar a sobremesa. Para descascar uma pera com uma faca gigante, acabei também descascando meu dedo, logo nos primeiros 5 minutos. Com pouquíssimos ingredientes tivemos que fazer o milagre de apresentar um peixe cozido ao vapor enrolado na folha de bananeira que foi muito elogiado pelo jurado.

Falando sério: ganhamos no quesito harmonia! Ninguém  notou meu pequeno acidente, embora tenha me deixado desconsertada pelo resto do evento. As baianas arrasaram na tarefa com a preparação do peixe. A outra participante do grupo, de Natal, agilizou uma entrada maravilhosa com todo o carinho e o gingado brasileiro.

Nosso time foi perfeito e o evento também estava muito bem organizado. Foi uma experiência superpositiva, que nos fizeram sonhar com um Master Chef 3. Se isso acontecer, teremos que estar mais preparadas e relaxadas, já sabendo o que nos espera, pois neste evento entramos de gaiatas no navio.

Valéria Silveira e Maria José dos Anjos, made in Bahia, e Ires Salmon, made in Natal, o trio que fortaleceu muito minha equipe. Teve ate menu caiçara: Peixe na folha de bananeira

Ires Salmon, minha companheira do jogo de tênis, foi minha parceira na culinária

Com os chefs Michelin Stars de Bahrein

No dia seguinte saímos na primeira página do jornal do Bahrein: é sempre um prazer participar por aqui! 


Aliás, para mim foi um prazer duplo este evento. Primeiro por conseguir, através do convite de uma amiga que trabalha na revista, levar mais 30 amigas da Arábia Saudita. Segundo porque este evento normalmente é restrito para mulheres que vivem no Bahrein. Felizmente, com o jeitinho brasileiro, abriram as portas da fronteira e nos permitiram sair do deserto limitado da Arábia para o deserto mais moderno do Bahrein. Todas adoraram o evento e a oportunidade de respirar a liberdade do Bahrein.

Brindando a vida e o Dia das Mães como ocidentais: amo agregar meus amigos


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