15.5.13
Festas latinas em Sandlândia
Se estamos entre amigas, ou ao menos colegas, nos entendemos só com o olhar. Já sabemos, miramos uma à outra, esperamos elegantemente e tin-tin! Apesar de me comunicar bem em inglês e ter iniciado agora o francês, sinto-me mais à vontade ao lado das amigas latinas, que falam espanhol nos encontros e nas festas. Por isto sempre menciono as latinas, na verdade, são minhas amigas da Bolívia, Venezuela e Espanha.
Precisamente nestes encontros, a boa compreensão dos assuntos conversados muitas vezes facilita e oferece algumas vantagens, principalmente quando queremos criar uma atmosfera mais próxima a que estamos acostumadas no Ocidente, mais relaxada... Sempre aproveito muito estas ocasiões com as latino-americanas. Solto meu portunhol e me faço entender.
Isto não acontece quando estou só com amigas árabes, ou com algumas outras estrangeiras, como por exemplo, algumas francesas e paquistanesas que também vivem no mesmo condomínio. Acho que elas realmente são fervorosas às regras. E, de um modo geral, as anfitriãs não fogem à regra com elas. A turma mais relax logo detecta quando há alguma birita caseira, elaborada a partir de suco de uva, a partir de um método que, infelizmente, não posso revelar. Aliás tenho que me policiar quando escrevo sobre muita coisa que acontece por aqui.
O álcool está proibido na Arábia Saudita, e ser encontrado bêbado pode causar graves problemas. Isto se deve à religião. O Islamismo impera no país e a leis são criadas respeitando seus mandamentos. O Islã é uma fé voltada para a comunidade. Não há lugar para o indivíduo fazer o que quer, se isso prejudica aos demais. No Alcorão os intoxicantes e o jogo são considerados abominações de Satanás e se ordena evitá-los.
O Alcorão é um livro de orientação enviado para toda a humanidade. É um conjunto de instruções do Criador para sua criação. Se seguirmos essas instruções nossas vidas serão fáceis e tranquilas, mesmo em face de desastre e desgraça (Alcorão 5: 90).
Na verdade, vejo muitas proibições decorrentes da religião, mas também vejo muito desrespeito ao ser humano. Vocês não imaginam como eles são loucos no trânsito. Não respeitam os sinais fechados e os limites de velocidade, tudo isto aliado à falta de eficiência na direção. Escreverei sobre isto num outro momento.
Meu marido é engenheiro eletrônico e trabalha numa empresa de petróleo europeia. Veio como chefe de uma equipe que está construindo uma refinaria de petróleo, na cidade considerada o maior polo petroquímico do mundo. Ele é uma pessoa muito competente e adora o que faz, tem um perfil humanista e é muito competente para lidar com seus funcionários, a maioria de origem indiana e filipina, que executam a parte mais dura do projeto. São eles que enfrentam o calor e as tempestades de areia no local da construção da refinaria.
As mulheres acompanham os maridos, mas sentem muito a diferença cultural. Gostam de se reunir muitas vezes, pelo menos uma vez ao mês, para não perder o costume latino de curtir uma boa comida e uma boa dança. Eu pego carona nestes embalos, quando estou cansada de organizar minhas próprias agitações no condomínio. Afinal, tudo acaba numa boa e com mesa farta, regada a comilanças e bebedeiras, uma pena que 99% seja sem álcool, mas com nosso jeitinho latino de ser, algumas vezes aparece um traguinho para acalentar a alma.
Saindo do nosso condomínio para outro lugar, privado também, para uma Festa Hippie Chic na casa da amiga boliviana.
As tortas sempre são lindas e deliciosas!
Criei esta cortina, que aparece atrás, para que as convidadas depositassem alguma colaboração em dinheiro. Enviamos o valor arrecadado para uma instituição boliviana.
As músicas dos anos 70 nos embalaram...
Decoração típica para a Festa Hippie Chic: minha amiga boliviana no comando!
Embaixo da abaya sempre levamos os trajes típicos para cada festa.
Um brinde é sempre saudável! E com água com menta, para refrescar...
E viva a Vida, em qualquer lugar por onde andemos!
E viva a Vida, em qualquer lugar por onde andemos!
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9.5.13
Curso de dança flamenca em Sandlândia
O flamenco é a música e a dança cujas origens remontam às culturas cigana e mourisca, com influências árabe e judaica. A cultura do flamenco é associada, principalmente, à região da Andaluzia na Espanha, assim como as regiões de Múrcia e Estremadura.
O passado do flamenco é regado de dor, perseguição e sofrimento. Fortemente influenciado pelas culturas cigana, mourisca e árabe, o flamenco surgiu pela fusão dessas raízes em um momento histórico difícil. Para aliviar o sofrimento, refletiam na música flamenca o espírito desesperado das lutas, a esperança, o orgulho e a alegria das festas daquele tempo. Muitas das músicas flamencas ainda hoje expressam os sentimentos de desespero, esperança e orgulho desta época, assim como a alegria das festas noturnas. A música mais recente, de outras regiões de Espanha, também foi influenciada pelo estilo tradicional do flamenco. As categorias de flamenco se subdividem em estruturas rítmicas chamadas “palos”, como por exemplo: soleá, malagueña, bulerías, calliano, rumbas, sevillanas, jondo, tientos e tarantas.
Em Sandlândia surgiu a oportunidade de voltar a estudar flamenco. Aqui, em frente ao Golfo Pérsico, temos um salão que nos acolhe duas vezes por semana e nos permite liberar nosso espírito, soltar nossas amarras e vivenciar as gostosas e produtivas aulas com Olga Ravea, nossa querida instrutora e bailarina da Companhia de Flamenco da Andaluzia. Somos seis alunas agora: uma brasileira, duas francesas, uma coreana, uma venezuelana e uma italiana. Mesclamos nossa gana com o desejo de sapatear e deixar fluir a paixão do flamenco.
Nosso grupo dedica-se a dança Sevilhana, que tem expressões fortes e movimentos vigorosos, usando muito os braços e os pés. Para uma brasileira, às vezes estes movimentos se parecem duros demais. Automaticamente nos soltamos, com o gingado e o remolejo das danças brasileiras, onde usamos muito a sensualidade. Mas com muito treino e dedicação, podemos apresentar a dança de maneira autêntica.
Dançamos com saias largas e compridas e usamos sapatos especiais, com um retoque de metal na sola para fazer barulho quando tocamos o solo. Normalmente as dançarinas prendem seus cabelos e maquilam bem os olhos, procurando exibir uma expressão bem apaixonante e em sintonia com a melodia.
Infelizmente nosso curso tem tempo curto, já que nossa querida professora voltará para a Europa, mas tenho certeza que irá bem feliz por ter plantado no coração das latinas, aqui no Oriente, algo especial da sua rica cultura espanhola.
Não há fronteiras nem idade para o aprendizado. Sinto-me como uma adolescente, descobrindo outras alternativas e possibilidades para a vida. Quando realizo os exercícios com os pés, vejo o quanto necessitamos da nossa mente para dançar.
Acho que o flamenco é uma dança passional. Necessitamos representar para dançar. Precisamos nos desligar do mundo externo e deixar as emoções fluírem, embaladas pelas canções, algumas vezes nostálgicas e emotivas, mas sempre com muita paixão.
Ao dançar flamenco, precisamos despertar nossa concentração e coordenação motora, para que ao menos alguns passos e movimentos sejam dignos de se apresentar. Pensando bem, acho que a dança pode ser um bom exercício preventivo contra nosso amigo alemão, o tal do Alzheimer.
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30.4.13
Nordeste do Brasil: Fortaleza com amigas queridas
Aterrizei na pátria amada Brasil em junho 2012. Resolvi mudar o rumo para mudar de ares e recarregar as baterias.
Sempre saio de férias com o desejo de sugar todo calor humano do nosso povo, aproveitar culinária maravilhosa, ouvir boa música e curtir a alegria que só o brasileiro emana...
Adoro viajar com meu marido, mas desta vez, impossibilitado pelo trabalho, ele me deu alvará para voar até o maravilhoso nordeste brasileiro, onde eu encontrei tudo para carregar a minha bateria que estava tão fraquinha e desgastada no Oriente.
Sempre que estou no Brasil, procuro conhecer um pouquinho mais da nossa rica cultura. Quando morei na Bélgica, convivi com muitos brasileiros e, por curiosidade, a maioria eram nordestinos. Tenho grandes amigas deste cantinho do nosso país, e todas me passavam uma linda impressão dos lugares e da cultura nordestina. Encaixei em minhas prioridades como turista no Brasil, descobrir um pouco mais da terra dos ventos e das secas.
Pena que as férias no Brasil sejam sempre curtas, falta tempo para poder visitar a grande família e nosso lindo e imenso país.
Saí de São Sebastião, minha cidade natal no Sudeste, e segui com duas amigas para o Nordeste. Fortaleza foi nossa primeira parada, onde deixamos nossas gargalhadas nos shows humorísticos, nossa gula nos deliciosos restaurantes, nossa ginga no show da Ivete Sangalo e Jennifer Lopez e nosso agradecimento aos simpáticos cearenses.
Seguindo a dica de uma amiga que encontramos por lá, resolvemos esticar um pouco pelo litoral até Jericoacoara, um pedacinho do paraíso no Ceará.
Com minhas queridas amigas
Culinária de dar água na boca, e sempre querer mais...
Passeios pelo Atlântico com barcos animados ao som da música do Brasil
Impossível não se divertir com uma amiga tão alto astral como esta: 24 horas sintonizada na alegria!
No restaurante Arre égua, curtimos samba de raiz com um grupo cearense que nos levou ao delírio. Nos sentimos as donas da festa, num simples almoço de segunda-feira. Comemoramos o aniversário da amiga Annie Mello.
Este foi o polvo mais delicioso que já comi na vida. Foi num restaurante bem simples em Jericoacoara,restaurante da Nena, um cantinho especial .
Lindas dunas rodeiam a costa do nordeste brasileiro
A harmonia do trio favoreceu: foram 5 dias de êxtase e ficamos com desejo de voltar.
Curtindo as dunas, as paisagens magníficas, a beleza natural, o por do sol penetrante e a descontração do povo em geral, nos banhamos de alegria e de contentamento. Cada minuto valeu a pena!
4.4.13
Curiosidades da vida em Sandlândia (1)
Outro dia cheguei em casa meio abobalhada. Levei um tombo de bicicleta, no trajeto que sempre faço, quando vou para o Rec Center, lugar onde nos encontramos para fazer atividades, como fitness, ioga e dança. Aí também comemos, há um restaurante e um spa.
Estava toda relaxada depois da minha aula de flamenco. Resolvi acompanhar a professora e degustar o menu: uma sopa e uma linda salada. Conversamos sobre a vida e as atividades das expatriadas por aqui. Falamos da ansiedade por não sabermos onde estaríamos depois desta experiência aqui em Sandlândia. Por fim, satisfeita, com a barriguinha cheia e precisando de uma “siesta”, me despedi.
Subi em minha bicicleta holandesa, que todas adoram, pois não existem muitas bicicletas por aqui. Coloquei meus apetrechos na cestinha e me dirigi à rampa que me levaria ao caminho de casa. Como se levasse um empurrão de alguém que gostaria de me jogar no chão, senti, em uma fração de segundos, a sensação de estar sendo protegida, se não por mim mesma, por meus reflexos e cai sobre uma moita de cravos amarelos. As flores foram esmigalhadas por meus quilinhos extras e impregnara, meu nariz que beijou o gramado. Minhas roupas ficaram com aquele cheiro que sempre me lembra um velório. Sai desse corpo que este corpo não te pertence, foi o que disse quando me levantei e vi minha bicicleta com alguns raios quebrados e toda torta no chão.
O indiano que trabalha na recepção veio ao meu encontro e se propôs a me ajudar, depois de me advertir que não deveria descer a rampa em bicicleta. Desviei o assunto e o agradeci, subi na bicicleta desentortada por ele e segui pedalando, admirando o belo jardim do condomínio, com os pensamentos voltados ao “se”: se tivesse me quebrado, se tivesse caído no concreto em vez do gramado, se tivesse sido mais cautelosa, se realmente usasse a bike como uma senhora e não mais como uma adolescente, se, se, se...
Esquentando meu travesseiro à noite, só podia agradecer a Deus por ter passado o susto, e não ter me machucado muito, só foram alguns arranhões nas pernas e uma batida no nariz. Senti que meu anjo da guarda às vezes dá um cochilo também, mas se escuta umas palavras minhas, me atende e não me deixa na mão.
A moita de cravos já estará replantada, pelas mãos dos dedicados jardineiros indianos que trabalham por um mínimo salario, aqui na terra dos sheiks. Minha nova rotina incluirá estar mais atenta aos meus próprios movimentos e respeitar a dinâmica do meu corpito que já está nos “enta” Tenho muita agilidade, mas também as limitações de uma “entona”!
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14.2.13
Preparando-me para conhecer o mundo (1)
As coisas sempre acontecem de maneira repentina em minha vida. Nunca menciono que foram “do nada”, pois acredito que “nada acontece por acaso”.
Recordo-me de ter iniciado os estudos budistas ainda quando era jovem. Acreditava na lei de causa e efeito. Isto me levava a crer que um dia iria encontrar muitas coisas boas por meu caminho, me reconhecia como uma boa pessoa: solidária e prestativa com todos. Sonhava em ter uma formação profissional que me favorecesse o contato com o ser humano. Queria ser dentista, talvez por ter trabalhado como assistente odontológica em meu primeiro trabalho oficial, ainda na adolescência. No final acabei indo cursar Psicologia, profissão que exerci por muitos anos com muito amor, antes de atravessar o Atlântico para viver com meu marido em outro país.
Minha infância foi marcada por momentos tristes e desanimadores por causa de algumas dificuldades familiares. Minha mãe, com muita força e coragem, enfrentou a situação e nos ensinou a ir à luta, mesmo que isto nos tenha custado pular uma fase da vida.
Não me lembro das brincadeiras com bonecas, de escutar um conto lido por meu pai ou de me reunir com amigas para brincar como realmente brincavam as crianças. Mas lembro-me de estar atrás de um balcão, numa cantina de escola, a mesma que eu estudava, e de vender bolos, salgadinhos e lanches deliciosos feitos por minha mãe e minha tia. Juntas elas tiveram por 15 anos a cantina desta escola.
Minhas amigas de classe combinavam na aula as brincadeiras para a hora do recreio, mas eu nunca podia participar, pois tinha que trabalhar para ajudar minha mãezinha querida. Foi com este trabalho que ela conquistou sua tão sonhada casa, nosso lar, com muito sacrifício nesta empreitada.
Orgulhava-me disto, mas no fundo também havia um pouco de tristeza, porque me sentia inferior quando escutava as amigas comentando sobre as riquezas de seu dia-a-dia. Não cultivei este sentimento por muito tempo em meu coração, decidi deixar a vida me levar. Deixei as coisas acontecerem naturalmente, pois no fundo sabia que iria chegar a algum lugar, que aquele tempo duro logo se transformaria e me traria mais contentamento.
Entre o trabalho na cantina, os estudos e os esportes que sempre gostei de fazer, resolvi encontrar uma maneira de me permitir usar roupas mais bonitas, fazer passeios e tomar o sorvete no fim de semana, coisas que minha família, no árduo trabalho para a sobrevivência, não me podia permitir.
Comecei a juntar jornais velhos e caixas de ovos para vender aos feirantes da minha cidade: naquela época, não se usavam sacos plásticos e a feira era na rua da nossa casa. Passava a semana visitando os vizinhos para pedir os jornais e as caixas de ovos vazias. Na sexta acordava às 5 da manhã para levá-los aos feirantes que me pagavam com moedas que me faziam sonhar com o sorvete de domingo.
Não demorou muito tempo e um dos feirantes me ofereceu trabalho em sua barraca. Lá fui eu vender frutas e legumes. Minha mãe no fundo não gostava daquela situação, mas sabia que aquilo me fazia bem, então me deixou trabalhar algumas horas com os feirantes, mas logo tinha que voltar para casa para ajudá-la e estudar.
Foi neste meio de trabalho que também ofereceram um carrinho de churros para minha mãe e ela resolveu colocá-lo na porta de nossa casa para a venda de churros. Na nossa rua passavam os estudantes depois da escola, e ali meus colegas de classe me encontravam também, ajudando minha mãe a vender seus deliciosos churros e a engrossar a verba da família.
O tempo foi passando, meu pai chegava em casa bêbado a cada mês que terminava, com o bolso vazio. Ele não era de todo ruim, pois dividia a maior parte de seu salário com minha mãe para os custos da família, mas o que sobrava ele gastava com a bebida. Bebia tudo no buraco da onça, um bar popular em nossa cidade, e com certeza pagava também as branquinhas para seus amigos. O dia que seu time de futebol de coração perdia, ele quebrava a televisão ou o rádio. Lembro-me disso ter acontecido várias vezes... E minha mãe tinha que trabalhar ainda mais para comprar uma nova e repor a quebrada, ao menos para se permitir o prazer de assistir a novela das oito.
Com 14 anos comentei com minha mãe que gostaria de ter um trabalho mais digno, queria ser secretária, trabalhar num banco ou algo assim, foi então que meu pai conversou com um amigo dentista e me conseguiu um trabalho de auxiliar odontológica. Trabalhei por dois anos e meio neste consultório, recebendo menos que um salario mínimo, sem carteira assinada, porque era menor de idade. Trabalhava à tarde e estudava pela manhã. Coitadinha da minha de mãe, precisou encontrar outra ajudante, já que meu irmão tinha vergonha de ajudá-la na cantina, mas ela conseguiu com minha tia e alguns primos se virar bem sem minha ajuda. E me fez feliz porque pude conhecer outros trabalhos e pessoas, e assim amadureci para a vida que me chamava.
Por ser muito batalhadora e correr atrás para ajudar minha família e a mim mesma, era muito perseguida por meu pai e meu irmão, que não entendiam minha audácia de ir à luta, de querer conhecer mais, de querer participar mais na sociedade, de ir à festas, fazer viagens, enfim, de querer descobrir o mundo. Nesta fase me senti muito repreendida por eles. Decidi que quando fizesse 18 anos sairia de casa e buscaria meu lugar ao sol, longe das rédeas familiares.
Este período foi um pouco conturbado, me fez amadurecer e acreditar em meus sonhos. Criei forças para conquistar uma graduação escolar e também para apagar de minha mente a frase que um dia escutei da minha mãe: “filho de pobre não faz faculdade”. Ainda bem que, ao menos para mim, não foi verdade.
Tudo isto foi muito importante para me dar um empurrão para a vida fora da minha cidade, que era muito pequena e não oferecia bons cursos ou trabalhos para os jovens. Talvez se tivesse conseguido tudo com facilidade, teria estacionado por lá até hoje. Não teria descoberto tanta coisa que me transformou, que lapidou minha personalidade e que me fez ser mais interessada por outras culturas, outros idiomas e muitas coisas mais que me levaram até onde estou hoje.
Você aos pouquinhos, de post em post, descobrirá um pouco destas passagens da minha história.
Este período foi um pouco conturbado, me fez amadurecer e acreditar em meus sonhos. Criei forças para conquistar uma graduação escolar e também para apagar de minha mente a frase que um dia escutei da minha mãe: “filho de pobre não faz faculdade”. Ainda bem que, ao menos para mim, não foi verdade.
Tudo isto foi muito importante para me dar um empurrão para a vida fora da minha cidade, que era muito pequena e não oferecia bons cursos ou trabalhos para os jovens. Talvez se tivesse conseguido tudo com facilidade, teria estacionado por lá até hoje. Não teria descoberto tanta coisa que me transformou, que lapidou minha personalidade e que me fez ser mais interessada por outras culturas, outros idiomas e muitas coisas mais que me levaram até onde estou hoje.
Você aos pouquinhos, de post em post, descobrirá um pouco destas passagens da minha história.
Esta é uma das poucas fotos que tenho da minha adolescência. Naquele tempo minha família não tinha máquina fotográfica. Esperávamos um fotógrafo da capital passar para fazer fotos e registrar algumas famílias. Esta foi tirada para a carteirinha do grupo escolar. Na época, detestava meu cabelo curto, e sofri muito bullying com ele, hoje em dia tenho cabelo longo e lindo, que cuido com muito carinho
Esta foi uma das medalhas que conquistei na equipe de natação do município, mas a minha maior medalha foi ter conquistado o direito de treinar no clube onde só entravam os filhos dos funcionários da Petrobras. Ultrapassei mais um preconceito, pois era filha de um funcionário público. Batalhei e consegui com muitos treinos uma carteirinha de sócia-atleta do Tebar Praia Clube. Sinto orgulho por ter cooperado com algumas medalhas não só na natação, mas no voleibol e no tênis também, no clube da minha cidade.
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Memórias
14.6.12
Incentivos na primeira fase do blog
Recebi esta semana uma mensagem supercarinhosa, que lapidou minha pessoa e me faz seguir orando ao nosso criador para que eu continue polindo minha essência com humildade e confiança.
Obrigada querida Marcinha, grande pessoa, profissional, mãe e mulher.
E por estas e outras razões que me sinto realizada e plena de amor e carinho, emanados à distância, que penetram no íntimo e me fazem recordar que amigo é coisa para se guardar do lado esquerdo do peito. Você esta gravada Marcia, assim como uma dúzia de outros amigos especiais.
Adorei seu blog. Esta é uma homenagem para você:
Querida Valéria, daqui a pouquinho daqui a pouquinho seremos sessentonas, setentonas, e por aí vai... E a primeira impressão que tive ao te conhecer, vai estar presente sempre: foi de medinho de perder um segundo sequer do que você apresentava como pessoa, eu não entendia aquela luz enorme, porém, o coração aceita e adora sem explicações, e foi assim que eu te admirei e adorei a sua amizade, a sua majestosa e generosa improvisação, sempre genial, a sua capacidade de não somente viver ancorada no presente, como tornar o presente um presente para quem te rodeia. Se alguém algum dia me perguntar se conheço a Valéria, eu vou lembrar de quanta sorte eu tive no momento em que nos conhecemos, na alegria que senti cada vez que te encontrava, nas risadas que juntas rimos, nos quitutes que Valéria criava, nos passeios, nas festas, aqui e ali é a Valéria agitando, animando, trazendo risos e colecionando amigas, que imagino, se sentem como eu, gratas pelo imenso carinho trocado.
Para uma pessoa maravilhosa desta, rara, pérola rara e de total brilho, a palavra obrigada é pouco, a frase seja sempre feliz talvez seja mais satisfatória, tenho um sentimento de amizade por você querida Valéria, que, é eterno e terno, pleno de carinho.
Beijo,
Marcinha
Foto do nosso último encontro na Bélgica, ela me presenteando com um belo livro.
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Vida de expatriada
6.6.12
Expatriadas
Como agora também sou uma expatriada em Sandlândia resolvi postar aqui um pouquinho das histórias de expatriadas que conheço.
Por acompanhar o marido em projetos internacionais, vivo sempre uma expectativa quando chego num novo país. Aqui na Sandlândia ela foi um pouco maior, pois a cultura árabe é mesmo muito diferente da nossa latina e da europeia, a qual já estava vivenciando há 10 anos.
Mas, como sempre, encontramos pessoas afins em qualquer canto, em qualquer lugar. Com alegria encontrei muitas europeias e algumas latinas no condomínio em que vivemos (ou “compound” como eles chamam aqui). Eu que estava orgulhosa por já estar falando holandês, pois estudei 5 anos na Bélgica e é a língua materna do meu marido, precisei me virar com meu “bad english” e meu portunhol para me relacionar com as novas amigas.
Fico surpresa por entender quase tudo quando as francesas falam. Amo este idioma, mas na hora de falar não me arrisco, prefiro usar o inglês e espanhol que já estão bem mais lapidados em minha mente. Está sendo uma delícia este envolvimento com os idiomas, cada dia aprendo mais e me certifico de que não há barreiras quando nos deparamos com a necessidade de superar as dificuldades. Bom, acho que minha personalidade me ajuda muito nesta hora, não tenho vergonha de me expressar e a comunicação nunca foi um problema para mim, mesmo sabendo que em outros idiomas de vez em quando devo soltar algum “mim quer bananas”.
Claro que meus melhores contatos são com as venezuelanas, bolivianas e brasileiras que encontro por aqui, mas estou amando me relacionar com as francesas e com as americanas também, apesar delas não se misturarem muito.
Somos limitadas a algumas coisas, pelas leis do país, como por exemplo não poder dirigir, sair do condomínio só com o motorista ou com o marido, usar a Abaya (roupa típica para as mulheres) que é um manto negro que com o sol de 46º pode nos assar e por a Sandlândia nao ser um país turístico. Então não há tantas opções para estarmos fora do nosso “compound” que se assemelha muito a um resort. Passamos a maior parte do tempo criando programas, curtindo academia, praia, piscina e jardins lindos que nosso lar nos oferece.
Ficar sossegadinha para mim é um tanto difícil. Desde que cheguei na Sandlândia, programei e organizei alguns eventos. Já fiz uma festa brasileira, apresentando um pouco da nossa cultura e culinária, cursos de culinária, encontros na praia para trocas de experiências, aulas de violão on line, entre outras peripécias. Tenho percebido que já não conto os dias para partir, vivo cada dia intensamente, tentando tirar proveito de todos os aprendizados, de todos os contatos com as novas colegas e amigas e registrando quando me sobra um tempinho algumas passagens para em algum tempo ou em algum lugar dividir com os que me acompanharem.
Tenho procurado também o contato com as nativas, apesar de ser algo mais distante por aqui, pois elas são proibidas de entrar no nosso “compound”. As encontro em casas de amigas estrangeiras que vivem em Sandlândia há muito tempo e por isto já se relacionam um pouco mais com as sandilanesas. Elas normalmente estão mais em suas casas, a cuidar dos filhos, fazer suas orações e preservando a cultura. Felizmente conheci a K., uma simpática e espontânea mulher que me mostrou muita coisa interessante de sua cultura. Vou detalhar para vocês em outro post. Sou muito feliz por ter conseguido fazer uma amiga nativa, em meio a esta cultura tão fechada e ter podido mostrar a ela um pouquinho da nossa cultura também, pois imagino que a viagem mais longa que lhe foi permitida fazer foi ir a capital de Sandlândia.
Deixo algumas fotinhas por aqui e termino, pois vou agora para uma aula de culinária do Paquistão.
Mas, como sempre, encontramos pessoas afins em qualquer canto, em qualquer lugar. Com alegria encontrei muitas europeias e algumas latinas no condomínio em que vivemos (ou “compound” como eles chamam aqui). Eu que estava orgulhosa por já estar falando holandês, pois estudei 5 anos na Bélgica e é a língua materna do meu marido, precisei me virar com meu “bad english” e meu portunhol para me relacionar com as novas amigas.
Fico surpresa por entender quase tudo quando as francesas falam. Amo este idioma, mas na hora de falar não me arrisco, prefiro usar o inglês e espanhol que já estão bem mais lapidados em minha mente. Está sendo uma delícia este envolvimento com os idiomas, cada dia aprendo mais e me certifico de que não há barreiras quando nos deparamos com a necessidade de superar as dificuldades. Bom, acho que minha personalidade me ajuda muito nesta hora, não tenho vergonha de me expressar e a comunicação nunca foi um problema para mim, mesmo sabendo que em outros idiomas de vez em quando devo soltar algum “mim quer bananas”.
Claro que meus melhores contatos são com as venezuelanas, bolivianas e brasileiras que encontro por aqui, mas estou amando me relacionar com as francesas e com as americanas também, apesar delas não se misturarem muito.
Somos limitadas a algumas coisas, pelas leis do país, como por exemplo não poder dirigir, sair do condomínio só com o motorista ou com o marido, usar a Abaya (roupa típica para as mulheres) que é um manto negro que com o sol de 46º pode nos assar e por a Sandlândia nao ser um país turístico. Então não há tantas opções para estarmos fora do nosso “compound” que se assemelha muito a um resort. Passamos a maior parte do tempo criando programas, curtindo academia, praia, piscina e jardins lindos que nosso lar nos oferece.
Ficar sossegadinha para mim é um tanto difícil. Desde que cheguei na Sandlândia, programei e organizei alguns eventos. Já fiz uma festa brasileira, apresentando um pouco da nossa cultura e culinária, cursos de culinária, encontros na praia para trocas de experiências, aulas de violão on line, entre outras peripécias. Tenho percebido que já não conto os dias para partir, vivo cada dia intensamente, tentando tirar proveito de todos os aprendizados, de todos os contatos com as novas colegas e amigas e registrando quando me sobra um tempinho algumas passagens para em algum tempo ou em algum lugar dividir com os que me acompanharem.
Tenho procurado também o contato com as nativas, apesar de ser algo mais distante por aqui, pois elas são proibidas de entrar no nosso “compound”. As encontro em casas de amigas estrangeiras que vivem em Sandlândia há muito tempo e por isto já se relacionam um pouco mais com as sandilanesas. Elas normalmente estão mais em suas casas, a cuidar dos filhos, fazer suas orações e preservando a cultura. Felizmente conheci a K., uma simpática e espontânea mulher que me mostrou muita coisa interessante de sua cultura. Vou detalhar para vocês em outro post. Sou muito feliz por ter conseguido fazer uma amiga nativa, em meio a esta cultura tão fechada e ter podido mostrar a ela um pouquinho da nossa cultura também, pois imagino que a viagem mais longa que lhe foi permitida fazer foi ir a capital de Sandlândia.
Deixo algumas fotinhas por aqui e termino, pois vou agora para uma aula de culinária do Paquistão.
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1.5.12
Dubai
De passagem pelo Oriente, acompanhando o marido que está a trabalho no projeto de uma refinaria de petróleo em Sandlândia, não poderia deixar de visitar os países taxados como “exóticos” para muitos. Ao conversar com amigas, todas me perguntavam se vivia por lá, ou se já tinha conhecido a cidade. Vivemos em um cidade cujo nome se assemelha a Dubai, mas é uma cidade da Sandlândia e não nos Emirados, como Dubai.
Como sempre tentamos fazer para comemorar nossos aniversários, eu e o maridão viajamos para Dubai para comemorar seus 50 anos.
Nosso filhote Enzo, ficou na casa de um amiguinho francês. E lá fomos nós rumo à luxuosa Dubai. Tínhamos programado uma viagem simples, nada ostentador, o que fica difícil quando se fala de Dubai.
Adoramos visitar o lado velho das cidades, conhecer a cultura original e as tradições, o que não se divulga muito no turismo de Dubai. Fizemos nosso roteiro aleatório e deixamos rolar.
Depois de um voo tranquilo, de 1 hora e meia, chegamos ao nosso hotel de metrô. Adoramos este meio de locomoção, e o de Dubai é maravilhoso, limpíssimo e elegante.
Infelizmente o Hotel não era grandes coisas, contradizendo os outros maravilhosos que visitamos, mas para dormir e banhar-se estava ótimo. Não fomos em busca de requinte na hospedagem e sim de ver o que a cidade oferecia.
De cara fomos conhecer o gigante Burj Khalifa, o edifício mais alto do mundo, com 828 metros e 164 andares. Curti muito o visual bombástico e o luxuoso shopping Dubai Mall, o maior do mundo, com 1.200 lojas. De lá ganhei meu bracelete de 3 ouros, que meu querido me presenteou quando visitávamos o Gold Souk, um lugar belíssimo.
No final da tarde, meu marido que esta amando fotografar, resolveu curtir a hora dourada e fez lindas fotos, inclusive da dança das águas nas fontes, ao redor destes lugares que mencionei. Um lugar encantador, com vários restaurantes e lojas de artigos orientais.
Escutar Andrea Bocelli curtindo a iluminação nas fontes de águas cristalinas, com uma atmosfera acolhedora, foi uns dos melhores momentos em Dubai. Claro que saímos dali e fomos jantar no Mango Tree, para degustar o melhor vinho dentro da própria adega, sofisticadíssima. Me fez recordar a Sandlândia, onde vivo sob a lei seca, sem bebida alcoólica, no entanto por horas fiquei viajando naquele mundo exótico e degustativo.Tudo de bom o restaurante Mango tree. Mas é preciso fazer reservas.
Exploramos o Dubai velho, com suas ruas estreitas, seus trabalhadores com caras cansadas, o porto que retrata o velho tempo, e mostra a simplicidade dos marítimos. A maneira bizarra de se encher um barco de transporte, sem aqueles guinchos enormes das marinas modernas. Foi muito bom sentir e presenciar esta atmosfera mais real da cidade. Enquanto muitos correm atrás da tecnologia para levantar prédios impressionantes, existem ao lado pessoas levantando sacos, latões e muito mais coisas, com seus braços firmes e suas cabeças erguidas, cobertas pela fé.
Foi interessante, mas ao mesmo tempo é triste perceber estas discrepâncias sociais. Às vezes me dói a barriga por aqui, quando me lembro de tantos miseráveis na Índia, Etiópia e até mesmo no Brasil. Como seria bom se o queijo fosse melhor repartido.
Visitando o velho Dubai, não poderia deixar de fazer minhas comprinhas, mas desta vez me dei mal. Íamos fazer uma caminhada ao redor do Creek, canal que divide a cidade, porém eu tinha comprado simplesmente 8 trajes para dança do ventre. Sempre penso em presentear a família ou amigas, só que estas roupas, com tantos penduricalhos, pesavam muito, fiquei exausta por carregá-las. Prometi nunca mais ficar fazendo comprinhas para levar ao Brasil, mas sei que esta é uma promessa difícil de cumprir. Por onde ando libero meu lado Mamãe-Noel e não poupo minhas economias com souvenires que normalmente me rendem malas e excesso de bagagens nas viagens ao Brasil.
Animados em explorar a cidade a pé, paramos no Museu Islâmico da Escrita, no Museu de Arquitetura e num restaurante típico e popular, que fugia daquele glamour que sempre vemos nas publicidades sobre Dubai. Foi ótimo, e nos transportou à cenas de cinema, com uma atmosfera tão exótica e original.
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